sexta-feira, 16 de junho de 2017

O ESTADO INTERIOR


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"A fina sensibilidade de Platão para tudo que é psíquico estende-se aos animais tanto como aos homens. Parece-lhe que em nenhum lugar como no Estado democrático os cães, os burros e os cavalos andam com tanta liberdade, com tanto desembaraço e com um tão grande sentimento de si próprios. Parecem querer dizer a todos os que encontram na rua: se você não sair da frente, não sou eu que lhe vou dar passagem!"

"Paideia" (Werner Jaeger)


Esta citação de "A República" fere os nossos sentimentos democráticos. Por que é que cães e gatos não deveriam sentir-se como iguais e disputar a "mão" uns aos outros nos passeios?

Mas compreende-se o ressentimento deste aristocrata, que tinha familiares ligados à chefia do Estado. E, talvez, nem seja caso disso. O grande desígnio de Platão não é a reforma do Estado, mas a da alma. O Estado, aqui, prende-se com o método. "E é assim que o pensamento grego sobre o Estado conduz em última instância à criação da ideia ocidental de personalidade humana livre." (ibidem)

E vejamos, enfim, em que é que a igualdade democrática tornaria essa personalidade, presa do vício essencial da democracia: a demagogia.

Em vez do homem que se orienta por princípios éticos e pelos ditames da razão, teríamos um energúmeno, em que o estômago ou o sexo teriam tantos votos quantos a capacidade de juízo.



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