sexta-feira, 9 de junho de 2017

A SANTIDADE POPULAR

Vendeia. Morte de Charette (1796)

"O maire republicano de Rennes, Leperdit, um alfaiate, que salvou esta cidade do Terror e da Vendeia, é um dia assaltado por uma populaça furiosa que, alegando fome, quer lapidar os seus magistrados. Desce, intrépido, do Hôtel de Ville, no meio duma chuva de pedras; ferido na fronte, enxuga-a e diz: "Não posso transformar as pedras em pão...Mas, se o meu sangue vos pode alimentar, é vosso até à última gota." E eles caíram de joelhos... Viam algo para além do Evangelho."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)

Michelet diz que a mulher foi o verdadeiro foco da contra-revolução na Vendeia. Ela recebia na igreja e no confessionário a centelha que ia depois, na intimidade do lar, incendiar a imaginação do camponês.

Embora a Convenção tivesse julgado a favor do camponês "o longo processo dos séculos, abolindo os direitos feudais, sem indemnização" e até os direitos censuais, não era o interesse económico que movia a revolta vendeana.

Só podemos admirar a inspiração desse maire republicano, ao servir-se dos próprios símbolos da religião para desarmar o fanatismo.

A analogia eucarística impediu um crime, por não ser de esperar de um "inimigo da religião". O historiador, apóstolo, sempre, da santidade do povo pretendeu ver aí uma revelação.

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