domingo, 24 de julho de 2016

JUSTIFICAR E REFUTAR



"(...) já que todas as teorias filosóficas dogmáticas se apresentam mais eficazes e com maior força de 'convencimento' ao refutarem outras teorias, e com menos força quando justificam as suas próprias conclusões."
(Kant)

A crítica de Kant deu lugar ao idealismo hegeliano que Marx achou que era justo, excepto no facto de estar de pernas para o ar. Essa inversão dogmática efectuada pelo discípulo foi poderosa enquanto atacou a ideia do capitalismo, ao mesmo tempo que este saía, por força disso, do seu estado 'natural' de trágica inocência.

Mas a conquista do poder levou os teóricos post-marxistas a terem de justificar todos os desvios do seu ideal. E nisso, realmente, falharam. A sua crítica do capitalismo mostrou-se sem valor face ao resultado das medidas que foram obrigados a tomar, não para salvar o ideal (que foi fatalmente atingido), mas para salvar o regime, para, enfim, se salvarem a si mesmos.

A crítica cartesiana não se sentia obrigada a apresentar alternativas de sociedade; passava-se toda no sujeito individual. Alguns acusaram Descartes de minar as bases da religião, e ninguém pode demonstrar o contrário, apesar dele próprio acreditar em Deus ( a não ser que a sua piedade esteja ao nível da sua etiqueta social).

A partir da ideia de sistema, toda a crítica da economia política tinha o impulso 'dialéctico' da fórmula 'tese-antítese-síntese'. Não se tratava de alcançar a justeza do pensamento, de 'interpretar o mundo' correctamente, mas de 'transformá-lo' pela força da lógica confundida com a história.

O espírito de negação tem a força do 'separado', do que não se sente obrigado a contemporizar com um mundo essencialmente 'caótico'.

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