sexta-feira, 29 de julho de 2016

A DEUSA DA HISTÓRIA





"O Partido nunca está enganado.', disse Rubashov. .'Tu e eu podemos errar. Não o Partido. O Partido, camarada, é mais do que tu e eu e milhares de outros iguais a ti ou a mim. O Partido é a corporização da ideia revolucionária na história. A História não conhece escrúpulos nem hesitações. Inerte e sem errar, ela corre para o seu objectivo. A cada curva do seu percurso, deixa a lama que transporta consigo e os cadáveres dos afogados. A História conhece o seu caminho. Não comete erros. Aquele que não tem uma fé absoluta na História não tem lugar nas fileiras do Partido.' Richard não disse nada; com a cabeça nos punhos, permanecia imóvel com o rosto virado para Rubashov."

"Darkness at noon" (Arthur Koestler)

Donde surgiu este indefectível optimismo? A teoria da evolução dava à doutrina do comissário uma espécie de certificação científica. Tal como as espécies parecem resolutamente evoluir, em direcção ao Homem, através de uma providencial 'struggle for life', a História hegeliana, depois de corrigida, e de deixar de estar assente sobre a cabeça, adoptou o mesmo modelo de evolução imparável rumo ao Homem Novo.

Rubashov limita-se a repetir mecanicamente o oráculo. O detido sabe o que o espera depois de ter tentado contrariar a História ao ter criticado o rumo do Partido. Mais do que um crime, a sua rebeldia só pode ser vista como um pecado 'contra o espírito', a auto-exclusão da Teologia racional, identificada com o que 'já está escrito' (visto que podemos antecipar as principais etapas da história dialéctica).

O resto da história contada neste romance também podia ser previsto. Chega a vez de Rubashov, o velho bolchevique que 'fez' a revolução, é atirado para fora do comboio da vitória, numa das também esperadas 'reestruturações' oficiais da História.

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