sábado, 26 de março de 2016

O PLANETA DOS MACACOS

"Planet of the Apes" (1968)



"A face de Janus do 'progresso auto-destrutivo', contudo, gera conflitos que podem corroer a base social da racionalidade - a ciência, os militares, a polícia, a lei e a democracia. A sociedade com isto fica sob constante pressão para negociar fundamentos sem uma fundação. Fica exposta a uma desestabilização institucional na qual todas as decisões - desde os regulamentos do governo local sobre limites da velocidade e aparcamento, passando pela manufactura de produtos industriais, até aos fundamentos da segurança social e da segurança militar, dos serviços de saúde e do abastecimento de energia, dos direitos de igualdade e liberdade - podem converter-se em conflitos políticos fundamentais."
"World at risk" (Ulrich Beck)

Esta situação traduz a 'irresponsabilidade organizada' de que fala o sociólogo. É assim que a organização 'intencional' (que poderíamos elevar ao conceito de racionalidade, se não existisse uma organização espontânea na natureza) é compatível com a anarquia ao nível superior, com consequências impensadas e impensáveis.

O simulacro de um progresso controlado está sem dúvida presente em todas as decisões estratégicas emergentes que, como diz Beck, carecem de 'fundação', a começar pela racionalidade mais avançada, a do 'progresso científico'.

No moderno paradigma, tivemos de abandonar o conceito de criatura aplicado ao homem. Não conseguimos racionalizar uma alternativa que dê sentido ao mundo que 'criámos'.

E, no entanto, chegam ao mundo das nossas certezas, cada vez mais sinais de um naufrágio ocorrido algures, alguma vez. E é um pouco como a cena final do 'Planeta dos Macacos', em que Heston descobre, numa praia, a estátua da Liberdade.


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