quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

REALIDADE


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"(...) toda a ideia do Sistema permanece secretamente orientada por uma mira que não é precisamente vontade de conhecimento no sentido científico do termo, mas uma espécie de intensa necessidade de escapar à realidade, ao mesmo tempo que pela projecção, a fascinação de um imenso mito: a omnipotência do espírito."

(N. Basiet, citado por Tagami)

"A ciência (...) é (...) um sistema de conhecimentos demonstrados, ligados entre eles numa unidade ideal, abstracta, independente dos objectos concretos."
(Massis, "Jugements", 1923, p. 64)

A realidade aproxima-se do caos na primeira definição. Por 'impotência do espírito', não vemos a ordem senão em nós mesmos, e é a essa ordem que chamamos razão e princípio de tudo o que existe.

Mas essa impotência, de facto, serve-nos de veículo para fora do labirinto do ser. É como um instinto secreto, ignorado por aquilo a que chamamos o instinto natural, como é o da sobrevivência. Dito de outro modo, se a Providência não existe, é preciso inventá-la para que o caos não seja definitivo.

Uma das ferramentas para acrescentar ordem ao mundo cavernoso é a ideia de sistema. Estamos tão dependentes de tal simplificação que, em qualquer debate, para obter um consenso fácil, não há como pronunciar essa palavra mágica.

Com isso, adiam-se indefinidamente os encontros da nossa impotência. E parece que ligando as coisas desse modo temos, finalmente, acesso à verdade escondida, à realidade.

E é o melhor que podemos fazer para 'escapar à realidade', criando um sentido que prescinde dela.

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