segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

INTELIGÍVEL E VERIFICÁVEL

(Paul Valéry)



"A ciência, no sentido moderno da palavra, consiste em fazer depender o saber do poder; e vai até subordinar o inteligível ao verificável."
(Paul Valéry)

A teoria da relatividade se tivesse sido formulada no tempo dos grandes filósofos da Grécia Antiga (por um extraterrestre, digamos), não seria considerada 'científica', mas, provavelmente, ter-se-ia olhado para ela como um hieróglifo mais ou menos sagrado, como diz a palavra.

Nesta fase, teria havido já uma apropriação por um poder 'sacerdotal' afim do que existiu no Antigo Egipto.

A parte moderna da frase valeriana é a que nos diz que a sociedade grega de então não subordinaria, como nós, o 'inteligível ao verificável'.

Se o tivesse feito, não haveria um começo grego da ciência. Porque, como disse Comte, a série do conhecimento, começou pela a astronomia que só podia 'considerar' os astros de longe, sem poder 'verificar' o que quer que fosse. Isto é, deu-se todo o valor à explicação inteligível, sem se pensar que a falta de 'verificação' fosse tão 'desastrosa', como pensamos hoje.

E aqui entra a subordinação ao poder. É que o indivíduo muito raramente tem os recursos necessários para provar. É preciso todo um sistema de 'verificação' que, só esse, confere o estatuto científico. O inteligível não basta. O seu principal defeito é a impotência junto da colectividade.


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