quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O VAZIO



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"'A acústica do vazio'. Quando um alfinete cai no soalho de um quarto vazio, o ruído que faz parece desproporcionado, desmedido: é o mesmo que acontece quando o vazio reina entre os seres."

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)

Basta a mobília para que um quarto não esteja vazio. Ninguém precisa de estar lá. Entre os seres, é o tempo (em) comum que os 'mobila'. Não só o passado, porém, mas todos os modos do tempo.

Perante um desconhecido não é o vazio que aparece, mas as projecções recíprocas de um futuro, por insignificante que seja. De facto, o que é natural é darmos-lhe algum crédito, antes de sabermos se o merece. Alguns dos mudos figurantes da nossa 'comédia humana' são mesmo indecifráveis e, provavelmente, profundos (de um modo não queirosiano). Mas o vazio nunca é o caso.

O cineasta Antonioni, nos anos setenta, ficou célebre por ter introduzido em alguns dos seus filmes o tema do silêncio entre as personagens, uma espécie de 'mal de vivre' sem causa específica. É, contudo, legítimo pensar que o cinema tem a sua própria geneologia e que este desconforto das personagens de Antonioni descenda, por emaranhados caminhos, do 'Rebel whithout a cause' de Nicholas Ray. O ponto, no entanto, é que o vazio não dá lugar a nenhuma rebeldia. São mundos separados por velocidades diferentes. Daí a incomunicabilidade que James Dean tão bem exprimiu.

A frustração e a impotência é que preenchem esse silêncio. Coisas negativas, decerto, mas que não fazem o vazio.



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