domingo, 13 de dezembro de 2015

O SALÃO DE MALLARMÉ

André Gide (1869/1951)


Em "Si le grain ne meurt", André Gide conta-nos como eram as famosas quartas-feiras à noite de Mallarmé:

"Em casa de Mallarmé, reuniam-se quase exclusivamente poetas; algumas vezes pintores (penso em Gauguin e Whistler). Descrevi noutro lado esta pequena assoalhada da rua de Roma, ao mesmo tempo salão e sala de jantar; a nossa época tornou-se demasiado ruidosa para que hoje se possa imaginar facilmente a atmosfera calma e quase religiosa deste lugar. Decerto que Mallarmé preparava as suas conversas que não diferiam muito das suas "divagações" mais escritas; mas ele falava com uma tal arte e num tom tão pouco doutrinal que parecia que tinha acabado de inventar no momento cada nova proposição, a qual ele não afirmava tanto como parecia vo-la submeter quase interrogativamente, de indicador levantado, e o ar de dizer: "Não se poderia dizer também?... talvez..." e fazendo quase sempre seguir a sua frase de um: "não é assim?", com o que mais influenciava, sem dúvida, alguns espíritos. Algumas vezes uma anedota cortava a "divagação", algum dito de espírito que ele reproduzia na perfeição, atormentado por essa preocupação de elegância e de preciosismo, que levou a sua arte a afastar-se tão deliberadamente da vida."

Pensar que hoje um documentário sobre o poeta, na televisão, nos pode parecer mais instrutivo que frequentá-lo.
Por causa da ideia de que um pensamento se pode resumir em algumas imagens mais o seu comentário. De que o corpo só produz "ruído".

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