terça-feira, 28 de julho de 2015

A FÉ COMUM


Chesterton

"O devoto é inteiramente livre de criticar; o fanático pode, com segurança, ser céptico. O Amor não é cego; isso é a última coisa que é. O Amor está enlaçado; e quanto mais enlaçado, menos cego é."

"Orthodoxy" (G.K.Chesterton)

Todos conhecemos exemplos de mães que vêem todos os defeitos dos filhos e que apesar disso, ou por causa disso, lhes querem mais do que à própria vida. É porque, como diz GKC, a virtude é uma coisa e o valor é outra. Não são cegas para os defeitos ou os vícios, mas estão 'enlaçadas' com o ser que trouxeram ao mundo e, para elas, isso é algo tão precioso como o melhor de si mesmas.

O que vale a crítica do devoto, se não se 'auto-critica, na sua fé mesma? Sabemos que a auto-crítica de que, por exemplo, alguns revolucionários se reclamavam não era uma crítica que pudesse pôr em causa a fé revolucionária. Partia-se sempre dela, quer para criticar os adversários políticos, quer para se controlar o respeito das regras e a eficiência militante.

De uma maneira ou de outra, é o que todos fazemos, mesmo no terreno da moral comum. A alternativa é o 'homem sem qualidades' (Musil), que é demasiado inteligente para escolher e decidir o que quer que seja. A fé a que chamo comum é o castelo interior que não lança pontes levadiças à primeira novidade. Só com uma ideia segura, ainda que não clara, se podem criticar as outras ideias.

Na mesma linha de pensamento, o fanático de uma ideia poderia ser céptico em relação a todo o pensamento. Mas aí não sigo o autor, porque não concebo o fanatismo sem zelo fanático. Alguém poderia guardar para si a única ideia que tem na cabeça? Não se deveria, pois, chamar cepticismo à sua atitude em relação aos outros e às coisas em geral.




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