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Matosinhos |
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"Desde Marx sabemos que a força propulsionadora que mergulha a modernidade na aparente progressiva historicidade é baseada na aliança entre capital e ciência. Ao mesmo tempo somos forçados a distinguir mais acutilantemente entre a continuação ('Fortgang') e o progresso ('Fortschritt') a que chamamos...mal."
"Crítica da Razão Cínica" (Peter Sloterdijk)
O antigo império chinês fornece-nos um exemplo da 'continuação' que, pela sua natureza, não seria "um fenómeno de energia, como uma posição numa polaridade natural", como diz Sloterdijk (porque "o Diabo não só é um evolucionista, como é também um nominalista.").
É pois o movimento (o "progresso") que levanta a questão da natureza dessa força divergente e do seu sentido. Mas é verdade que a 'continuidade' pode significar um mal entranhado. "A Revolução na continuidade" já foi um moto conotado com o mal do imobilismo político. E a partir dessa 'diabolização', a situação tornou-se 'polar', disponível para o jogo político ou para o fenómeno 'energético'.
Não sabemos se a força de que aqui se fala, representada pela ciência e pela tecnologia, podia ser tão 'eficazmente' explorada fora da aliança com o capitalismo. Dizer que não o poderia ter sido nas condições do Império do Meio, não parece falho de senso.
Mas o ponto é que parece não estar no nosso espírito, nem nas nossas mãos, dominar e definir eticamente um fenómeno que se nos apresenta como uma necessidade tão exterior como a Natureza na filosofia antiga. Nem sequer podemos conceber o que nos acontece com a distância da astronomia...
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"Modern Times" |
"Nem é preciso dizer, de resto, que os técnicos ignoram os fundamentos teóricos dos conhecimentos que utilizam. Os sábios, pelo seu lado, não só permanecem estranhos aos problemas técnicos, como se encontram ainda privados dessa visão de conjunto que é a própria essência da cultura teórica."
(Simone Weil)
A caricatura extrema desta divergência entre a técnica e a cultura teórica, é o almoço-minuto do operário, nos "Tempos Modernos", de Chaplin, graças a uma máquina que é o último grito da técnica e que evita os movimentos 'supérfluos' na alimentação. Um exemplo mais próximo é o martelo pneumático em que o trabalhador se tem de apoiar, servindo os seus órgãos internos de amortecedor.
Entretanto, nos lugares mais civilizados (o que, neste mundo 'global', exclui os países pobres que, em muitos casos, não têm outro remédio senão utilizar a técnica agora 'desonrada' nos países ricos), apesar da especialização crescente, a 'visão do conjunto' de que pode emergir a coordenação e a integração do processo técnico é hoje, cada vez mais assegurada pela computação e pela 'rede', a última prótese que replica o cérebro humano.
Simone, que escreveu nos anos trinta do século passado, não chegou a conhecer essa 'evicção' do humano pelo inevitável efeito da complexidade.
Mas já é assim que pensamos (ou nos deixamos pensar), sempre que nos esforçamos por compreender o Cosmos...
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Franklin Roosevelt |
"(...) era tempo de o país se tornar bastante radical pelo menos durante uma geração."
(Franklin Roosevelt, citado por Martin Gilbert)
Esta declaração estava à altura das circunstâncias (a Grande Depressão do final da década de 1920). Não foi proferida por um radical, nem por um político imaturo. Frisando que, nem por se ter de adoptar, temporariamente, uma política que forçava os cânones do 'american way of life', a liberdade individual, tal como a entendia a maioria da nação, a tradição democrática estava em causa. Como disse na altura, "A história mostra-nos que onde isso (a radicalização) acontece de vez em quando, as nações salvam-se da revolução."
Por detrás deste radicalismo, não está, como se compreende, nenhuma ideia de 'parto histórico', mas uma analogia, podemos dizer, milenária, com o que se passa no corpo doente. O sofrimento imposto pelo médico é muitas vezes o único caminho para a cura. Roosevelt, ele próprio um grande enfermo, conhecia o perigo de uma eternização do 'sacrifício' ou do radicalismo que se auto-alimenta. Mas também conhecia a nação americana.
Mais tarde, no final dos anos 40 até meados da década seguinte, outra infecção, esta de carácter vincadamente retrógrado, pôs a democracia em perigo. O Macartismo deixou marcas profundas e mostrou que a democracia não se defende apenas com boas instituições e uma cultura solidamente estabelecida.
O que se tem passado no nosso país é esclarecedor do efeito devastador de um radicalismo apoiado por uma conjuntura de interesses, no fundo anti-democráticos, em que os doutrinários mais ingénuos fazem a triste figura de quererem ser 'mais papistas do que o papa.'
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Benjamin Constant |
"É preciso estudar as misérias dos homens, mas contar entre estas misérias as ideias que eles se fazem dos meios para as combater."
(Benjamin Constant)
É Camus que cita este pensamento. Camus, homem sem Deus, homem de Deus. Pois como falar das 'misérias' da condição (é isso, não é?), sem falar das 'grandezas'?
Por outro lado, essas misérias combatem-se, mas na ilusão, e será por isso que se recusa a grandeza a esse combate. Um exemplo do bardo inglês: Lear é tolo quando despreza Cordélia e faz fé na justiça das outras filhas, Regan e Goneril. A miséria que lhe sucede parece uma sentença do Céu, mas ele é grande nessa miséria. Moral da história: a ilusão não é o fim da conversa.
A ilusão é-nos tão essencial que não aprenderíamos nada sem passar por ela. Nessa passagem, descobrimos o sentido do combate de que fala Benjamin Constant e o 'resultado' surge como irrelevante.
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Narciso (Caravaggio) |
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"Foram eles (os jovens Hegelianos) que libertaram essa figura do pensamento que é a crítica da modernidade, a qual se inspira no espírito da modernidade, do peso do conceito hegeliano de razão."
(Jürgen Habermas)
Sabe-se que a Revolução Francesa foi determinante para mudar a forma de ver a história e conferir à humanidade o papel de sujeito nessa história.
Com a sua 'racionalidade', inspirada nos filósofos do século XVIII, esse grande movimento pôde 'escrever' as revoluções futuras. Já os antigos romanos, sobretudo os do tempo da República, tinham servido de modelo aos homens da Convenção. Lenine fará questão, mais tarde, de não cometer os erros da Revolução de 1789 e da Comuna de Paris (1871).
A Razão universal em Hegel, sem dúvida ainda um legado teológico, apropriar-se-á desse movimento histórico, como acção do pensamento que nega a forma da sociedade existente. A crise social liberta a Crítica e o sujeito dessa crítica que é a Razão hegeliana.
Os 'Jovens Hegelianos' pensaram corrigir o erro do velho mestre que, segundo eles, tinha colocado a dialéctica assente sobre a própria cabeça, virando-a ao contrário, com o que teria passado a poisar com os pés no 'mundo real'.
Hegel tinha atrás de si o acontecimento revolucionário quando formulou o seu sistema. Os seus herdeiros passaram a ter a Revolução à frente deles. Pensavam ter descoberto uma lei da História e encontraram a Parusia...
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Les Murray |
Diz o poeta australiano Les Murray que para se pensar claramente em termos humanos, temos de ser impelidos por um poema. (citado por Simon Leys)
Claramente é que pode ser controverso, porque nenhum de nós consegue chegar à raiz dessa clareza, que não é lógica nem discursiva. Mas o autor acrescenta: 'em termos humanos', o que muda tudo. Pensar claramente em termos humanos pode ser tão obscuro como Heráclito, apropriadamente apelidado de o 'Obscuro'.
Se a poesia fosse o nosso único modo de pensar, não teríamos construído a primeira máquina (talvez devesse dizer antes, que as máquinas não se teriam multiplicado, porque a invenção é poética, ou não é). Evidentemente, a lógica é uma espécie de guilhotina que não podemos dispensar. Mas isso é pensar em termos do mundo (a razão é agrimensora, mede a nossa relação com a terra e com a parte social dos outros).
Enquanto o poema se afasta da 'regra e do esquadro' e é tão 'indissecável' como o eterno problema filosófico da ligação do corpo e da alma. É por isso que não temos o direito de julgar, e é preciso julgar. As máquinas são necessárias e as prisões e a falsa justiça. Somos perfeitamente capazes de pensar em termos não-humanos. Foi isso que nos pôs na lua, entre outras coisas enormes.
Embora a lua que nos atraiu seja um objecto poético.