sábado, 26 de julho de 2014

O VOYEUR

"A Flagelação de Cristo" (Caravaggio-Museu de Capodimonte)


Três figuras em trabalho, puxando, levantando, golpeando cercam o corpo inteiramente submetido às forças.

Ainda branco e resplandecente, sem os sulcos do látego nem o sangue
Parece que esse corpo vai cair sobre nós, no momento seguinte.
Não há mais nada no quadro, nenhum cenário, nenhum fundo que simbolize outra coisa.

Apenas a sombra donde emergem o trio de pele retesada e escura e a vítima que obedece como um cadáver, sem um rictus, nem um pensamento.
Só o sadismo, palavra moderna, pode explicar-nos o encarniçamento dessa violência. Mas ele não está no trio mecânico.

Sádico é o espectador, cujo lugar ocupamos, anestesiados embora pela tradição.

Ao falar de Caravaggio é todo o sexual que se torna anacrónico.

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