terça-feira, 1 de julho de 2014

O RELÓGIO

 

Era Descartes que dizia que um relógio avariado não é uma excepção às leis do relógio, mas um mecanismo diferente, obedecendo às suas leis próprias (S.Weil).

O relógio é o produto de uma técnica perfeitamente controlada desde há muitos séculos. Sabemos como consertá-lo e pô-lo a obedecer à lei do seu mecanismo. É verdade que se um desses objectos tão úteis no nosso quotidiano deixasse de funcionar e fosse nesse estado descoberto por uma civilização futura que pudesse até ali passar sem o cronómetro, concerteza seria um pedaço de informação preciosa sobre o nosso tempo. Descartes diz que se trataria de um mecanismo diferente, mas talvez não devesse ter esse nome.

Quando (porque precisamos de teorizar a nossa prática), aplicamos à sociedade humana a ideia do mecanismo, procedemos como se a conhecêssemos. Essa era a ideia do século XIX que gerou as famosas 'leis históricas'. Esse mecanismo imaginário teve e continua a ter os seus devotos que se sentem, assim, do lado da História. Como é o caso na divisa: "A História me julgará."

O que é interessante é que esse 'relógio' histórico nunca deixa de funcionar, para essas pessoas, por mais reviravoltas que as sociedades dêem sobre si próprias. Não há hipótese, pois, de elas saberem em que espécie de mecanismo ou de coisa a história se poderia transformar ao deixar de 'marcar as horas'.

 

 

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