quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

COMUNICAR É PRECISO

Gustave Flaubert

"JORNAIS: Não poder passar sem eles, mas atacá-los de qualquer modo. A sua importância na sociedade moderna. Ex.: 'Le Figaro'. Os jornais sérios: 'La Revue des Deux Mondes', 'l’Economiste', 'Le Journal des Débats'; Espalhá-los pela mesa do salão, mas com muito cuidado de os cortar antes. Marcar algumas passagens a lápis vermelho, faz também um bom efeito. Ler de manhã um dos artigos destas folhas sérias e graves, e à noite, em sociedade, conduzir habilmente a conversa para o assunto a fim de poder brilhar."

"Dictionnaire des Idées Reçues" (Flaubert)

O burguês filistino, homem de aparências, está aqui retratado sem nuances. Flaubert, neste seu pequeno dicionário, diverte-se a caçar com rede larga a estupidez, coisa enorme e as mais das vezes obscura. Quantas vezes, a estupidez é um instinto político... O Cláudio de Robert Graves é o melhor exemplo. Embora encontremos, na mesma fonte, a ideia de um homem mais astuto do que estúpido, ter-se-iam enganado todos os seus contemporâneos?

Voltando às 'ideias feitas' de Flaubert, é notório que na nossa época a necessidade filistina de parecer informado deu lugar à ilusão de que só não está informado quem não quer. Não faltam os 'especialistas' para 'esmiuçar' os números e os factos, de tal modo que o burguês de Flaubert já não saberia distinguir as fontes 'sérias' das que o não são. Talvez a 'idée reçue' correspondente fosse hoje a de que 'comunicar é preciso' e que a informação só serve para comunicar. É o pensamento oculto dos que ainda lêem jornais.

E o que é feito do 'homem das aparências' que realmente nunca leu o jornal matinal com a piedade hegeliana? Talvez faça parte duma rede social em que ele próprio é a informação. Já não 'brilha' no salão mundano, mas 'comunica'.

 

 

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