segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ABSOLUTAMENTE ÚNICO

Blaise Pascal (1623 - 1662)

"(...) Pascal escreveu um texto sobre o amor, que adoro: será que eu me enamoro porque ela é assim ou doutra maneira, porque ela tem esta ou aquela qualidade? Não. O que se ama em alguém, não são as suas qualidades objectivas nem as suas particularidades locais, mas a sua singularidade. Amar alguém é, pois, dizer: "Isso, é mesmo teu!" Saber que esse alguém não é substituível. A sabedoria consiste em aprender a viver com a questão: "O que é que eu faço da singularidade que amo no outro, sabendo que ela é atrozmente frágil?" Como vencer o medo de a perder? Ou melhor, o que fazer desse medo? Eis uma verdadeira questão filosófica."

Luc Ferry ("Une sagesse de l'amour", propos recueillis par Jacqueline Remy -"le Nouvel Observateur")

Mas também o "isso é mesmo teu" pode ser dito de alguém a quem nos habituámos e cujos movimentos julgamos ser capazes de prever. É a queixa do "não há nada a fazer, tu és mesmo assim!" de homens e mulheres que acreditaram um dia, talvez, que era possível mudar a natureza do outro.

Este é, portanto, o reconhecimento conformado. Pascal fala-nos do júbilo e do sofrimento de partilhar um segredo só a nós revelado. Como se cada ser fosse a chave do universo.

Quanto ao medo, como diz Luc Ferry, não se trata tanto de o vencer, como de transformar o pensamento de perda no de dádiva e de liberdade.

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