terça-feira, 4 de dezembro de 2012

MEDICINA





"A medicina  (iatrikè) foi assim chamada outrora a partir da extracção dos 'ioi' ("flechas" ou "venenos");"

(Sextus Empiricus)




Vê-se que a primeira ideia da medicina antecipava o spinozismo. O corpo tem uma perfeição própria que é eterna. São sempre causas externas a trazer-lhe a ruína (uma flecha ou um veneno).

Esse corpo era um conceito que a realidade desmentia teimosamente, segundo o nosso ponto de vista. Acreditamos em causas endógenas, males de nascença que já não sabemos bem se pertencem ao indivíduo ou à espécie e ao meio em que vive. O corpo não está isolado, nem nasceu, armado como Minerva, da coxa de Júpiter.

Mas a 'infância' da medicina não inventou a ideia do corpo condicionalmente imortal. Começou por um mito, como é para nós o de Adão e Eva.

Se não fôssemos obrigados a 'interagir' com o nosso meio, quem sabe se não seríamos mesmo imortais? Dizem alguns que as células cancerosas o são. Mas também elas dependem da interacção, e com a morte do doente morre a peçonha.

Estamos em vias de regressar a uma Natureza que conhecemos menos do que nunca e que nos inclui necessariamente. É essa a imortalidade que está ao nosso alcance.


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