quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ESTAR EM FORMA




"- ...em forma para fazer o quê?
- Mas...eu sei lá...para estar em forma! É a vida, não é?!"

(Eric-Emmanuel Schmitt: 'La Secte des Égoïstes')


Schmitt imagina este diálogo num ginásio onde reinam os niquelados e as almofadas em 'skaï', onde o corpo das mulheres deixou de "ser desejável, à força de ser desportivo" entre "combinações fluorescentes que mais facilmente veríamos em painéis assinalando obras na estrada ou então um acidente."

Por que vem este 'marciano' fazer perguntas que deviam ter uma resposta óbvia, mas que realmente nos deixam a tartamudear? O ginásio que 'produz' aquelas criaturas 'ossudas, sem peito nem nádegas', afinal não é diferente do hábito de coleccionar selos ou de ir tirar fotografias em 'Machu Picchu' para a página do 'Facebook'.

Alguns (bem poucos na verdade, nos tempos que correm) podem consumir a sua vida escolhendo no catálogo vistoso que a publicidade mais ou menos sofisticada graciosamente coloca diante dos nossos olhos. A escolha é sempre nossa, dizem. Somos livres para embarcar na primeira 'nave dos loucos', ou para fazermos do 'templo' (na linguagem evangélica) que nos coube em sorte o teatro da nossa vaidade.

'Estar em forma' é uma expressão que insinua que estamos preparados (ou o melhor preparados possível) para o que der e vier. Estaremos, enfim, preparados para viver. Mas o meio torna-se facilmente a finalidade e a vida adia-se com o pretexto de estarmos cada dia mais prontos para ela.

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