sábado, 8 de setembro de 2012

O LIMITE DO VOYEURISMO

"Nostalgia" (1983-Andrei Tarkowski)



 

Em "Nostalgia", Tarkowski não nos poupa a repetição da cena da piscina, com a vela acesa. Sempre que esta se apaga é preciso recomeçar, sem nenhuma distracção para o espectador.

Esta maneira de fazer cinema (já por aqui passaram Bresson e Antonioni) encontra-nos, cada vez mais, deseducados pela velocidade de montagem do cinema americano, o qual, agora, infelizmente, parece não ter concorrência.

É toda uma ética da aparência que está aqui em jogo. Trata-se menos de mostrar uma cena exterior do que a mutação no interior da personagem, a mesma que experimenta o profeta (Erland Josephson) que se imola pelo fogo em cima da estátua de Marco Aurélio, no Capitólio.

Estamos, não se podia mais, perto duma perversão voyeurista, porque em nenhum momento deixamos de estar diante dum espectáculo.

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