segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O BOTÃO





Esta volatilidade das massas que as faz juntarem-se quase instantâneamente através das redes sociais, sem os habituais prazos de convocatória, sem a preparação das manifestações organizadas, é já a 'democracia electrónica'?

É pelo menos o sonho de qualquer demagogo (se a internet não fosse, aparentemente, um meio hostil aos efeitos do carisma político). Podemos imaginar onde isso nos poderia levar o referendo automático e em 'tempo real'.

A diferença em "How to murder your wife", o filme de Richard Quine (1965), entre o 'ter ganas' de matar o cônjuge, que nunca se concretiza, por falta de oportunidade ou por causa das consequências legais, e o botão (o mesmo da arma nuclear na ficção) que transforma a matéria do crime numa abstracção mais rápida do que a velocidade da luz e que parece que não nos diz respeito, é que esse botão é apenas, até agora, uma hipótese.

A verdade é que o governo (qualquer governo) é o contrário dessa participação instantânea do 'povo-povo', como lhe chamou o professor Marcelo.

A democracia representativa, por força dos desenvolvimentos tecnológicos, entre outros factores de ordem cultural, parece ter chegado à hora da verdade. A natureza sobretudo simbólica do voto de 'quatro em quatro anos' surge agora na sua simplicidade 'franciscana', de acordo, aliás, com a crítica de Marx.

Mas a verdade é que ainda não se inventou a crença que o vai substituir. Se a política democrática (que se julga a mais civilizada de todas) consiste em tratar de soberano um povo que se tem  de 'levar pelo cabresto', então a internet já passou a sua sentença.

Haveremos de chegar ao dia em que uma mentira tão flagrante seja substituída pelo 'realismo' necessário, poupando a nossa inteligência a uma ofensa tão gratuita.
  

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