quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

OS POSSESSOS


Andrzej Wajda

Wajda realizou em 1988 um filme inspirado no romance de Doistoiewski "Os Demónios".

Os niilistas russos da última metade do século XIX são aqui retratados em toda a sua paixão iconoclasta e suicida, provocando, sabotando, assassinando, fiéis à divisa do "quanto pior, melhor".

Este grupo viajou pela Europa e trouxe a peste na bagagem, como Freud dizia ao levar a psicanálise ao novo continente.

O fosso entre o atraso das condições sociais do seu país e o que essa elite impaciente pôde testemunhar no estrangeiro era um verdadeiro abismo, em que algumas cabeças esquentadas se precipitaram, como a vara de porcos do evangelho, para a qual Jesus transportara o mal dum endemoninhado.

É esse o pensamento redentor do velho Verkhovenski que parece expressar a visão do romancista: o mal estrangeiro tem de ser concentrado nesses possessos do niilismo e nos defensores do progresso em geral, para que a Santa Rússia, enfim, purgada, seja salva.

Este mundo de loucos febris, amorais como algumas personagens de Gide, confia, no fundo num mecanismo histórico. Eles apressam a chegada do futuro, antes de outros darem a essa quimera uma outra eficácia.

Passaram do delíquio dos serões provincianos de Tchekov, sem esperança, mas resignados, directamente para a bomba.

1 comentários:

antónio davage disse...

Por estas e por outras, Anacreonte é mais pescadinha de rabo na boca e o Sr. T. recusa o direito de uma linha...