quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O MASOQUISMO


"O êxtase de Santa Teresa" (Bernini)



"O segundo dragão é a imputação de masoquismo (...). Temos de entender os seus esponsais de dor como etapas obrigatórias no caminho para "o Bem". E, uma vez mais, este é um tópico extremamente complexo. Mas o que é certo é que até os amigos íntimos de Weil ficaram chocados com a sua confessada inveja das agonias físicas de Cristo, com o seu desejo de emular a Paixão. Por muito que se enquadre numa tradição mística de maceração divina, um sentimento destes situa-se na linha de sombra do patológico."

"Paixão intacta" (George Steiner)


O masoquismo é uma acusação diabólica, pois pode converter a maior devoção e o sacrifício mais abnegado no seu contrário. Lançar o veneno da suspeita sob a intenção mais pura. Suspeita de quê? Da virtude não ser mais do que um meio para servir algo de inconfessável como o prazer do corpo na forma paradoxal duma dor física. Sabemos que a própria consciência da virtude lhe é funesta, mesmo se procura o bem, mas aqui o próprio bem está ao serviço da luxúria.

Com a arma do masoquismo, não há santuário que não se remodele em lupanar.

E, no entanto, quem pode olhar o êxtase da Santa Teresa de Bernini sem sentir a ambiguidade?

Mas deixemos as armas à entrada, no caso de Simone.

Por que é que o excesso e a loucura não seriam expressões do amor autêntico?

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