quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

OS DRAGÕES DE SIMONE


a celebration of Simone Weil's spiritual journey by Megan Terry


George Steiner, em "Paixão intacta", refere-se à tese de H.L. Finch de que há quatro dragões que "obstruem o caminho que conduz a uma avaliação correcta" de Simone Weil.

"O primeiro é o da anorexia, tal como esta pode ser encarada pela psicologia comum."

Simone deixou-se morrer de inanição, num hospital do Kent, aos 34 anos de idade.

Supostamente, por compaixão, por querer compartilhar os sacrifícios alimentares da França ocupada. Steiner considera "mais ou menos" melodramática esta atitude.

Mas a verdade é que esta "paixão" não se compreende sem o modo, aos olhos do comum, excessivo de viver de acordo com a sua teologia.

O carácter sacrificial da sua proposta de participar na frente de guerra como enfermeira e, sobretudo, o grau da sua preocupação com os problemas sociais ou os duma colónia tão distante como a Indochina tinha a pungência duma dor física que aos outros podia parecer teatral (isto era antes da revolução mediática. Como suportaria a sua imaginação compassiva, por exemplo, as imagens da televisão?).

Num outro extremo, temos um exemplo, em Proust, duma preocupação impotente e um tanto ridícula no seu exagero, quando a duquesa de Guermantes confia a alguém, com toda a seriedade, que a China a inquieta.

Enfim, poderemos pôr em causa a autenticidade desta paixão e aquilo que hoje se chama de honestidade intelectual levada à sua quase impossível perfeição?

Voltarei aos outros dragões.

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