domingo, 26 de fevereiro de 2017

O ZOO E A FLORESTA

(Should we keep animals in zoos?)


"Claro que os zoos não podem oferecer aos seus animais as condições que eles teriam numa floresta preservada. Mas para os grandes símios em cativeiro, só raramente existe uma alternativa viável. Estima-se que mais de 4000 grandes símios vivam em zoos, em todo o mundo. A maior parte das regiões em que ainda se encontram no estado selvagem - orangotangos na Indonésia, chimpazés e gorilas na África Central e Ocidental, bonobos na República Democrática do Congo (RDC) - são devastadas pela perda de habitat, a guerra civil, a caça e a doença. Não mais do que 880 gorilas da montanha  sobrevivem em dois pequenos grupos nos confins do leste da RDC, por outro lado,  o habitat dos orangotangos declinou 80 por cento nos últimos 20 anos. Enquanto que alguns conservacionistas sonham com a repatriação dos  macacos dos jardins zoológicos para a selva, as florestas em vias de desaparecimento significam que isso só em muito poucos casos poderia ser feito."

"There is a moral argument for keeping great apes in zoos", in "Aeon" (Richard Moore)

A nossa espécie nunca professou um sentimento 'franciscano' pelos animais e as outras criaturas vivas. De um ponto de vista darwiniano, isso nem merece discussão. Precisamos de os sacrificar em grande escala, directamente (pelo açougue ou outro método) e indirectamente pela destruição do seu habitat sob o 'bulldozer' da nossa própria expansão.

A irrupção dos problemas de consciência e da ética nesta questão começou quando se atingiu algum grau de liberdade em relação às escolhas da nossa sobrevivência. Inicia-se uma era em que podemos imaginar uma dieta integralmente sintética, como a dos astronautas da 'Odisseia no Espaço'. Mas teremos alguma vez a possibilidade de recriar a vida selvagem que já reduzimos à porção mínima? E quantos exemplares dessas magníficas espécies desaparecidas ou em vias disso chegarão para o nosso museu de história natural ao ar livre, ou não? Sejamos realistas. Não se trata de devolver nenhum tipo de direitos, simbolicamente ou em espécie - a quem entregaríamos a colossal indemnização?

Os jardins zoológicos são como as reservas de índios que a jovem nação americana criou para aplacar a moralidade da época. Dario tê-los-ia escravizado. Os States prostituiram-nos depois ao turismo. Mas que poderiam ter feito? Mostrarem-se uma nação três séculos à frente na sua maneira de pensar?

Em relação ao cativeiro em zoo, como em relação aos matadouros e aos 'viveiros' de todo o género, há mais dignidade em ser cínico, do que crente e, no fundo, hipócrita.

Face à realidade da morte e à negação dela - porque é isso que está em causa - não há óculos de verão, suficientemente escuros.

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