quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ESPESSURA



(San Juan de la Cruz)


"Entremos mais dentro na espessura."

(S. João da Cruz)

É em si mesmo que o místico se aprofunda? O mistério do ser é um verdadeiro mistério e um mistério sem resposta?

A 'espessura' para definir a substância da escuridão ('La noche escura' é o título de um dos seus mais famosos poemas), não como uma simples ausência de luz, mas como algo parecido com a imersão do corpo na água, é uma metáfora estranha para a tradição da época.

Corresponde a uma deslocação da dominante visual (o Deus que tudo vê e o Grande Arquitecto), para o táctil e o sonoro, muito mais íntimo e próximo do corpo. Por isso há todo um erotismo paradoxal (quando falamos das coisas do espírito) nas obras do santo e da sua predecessora na reforma da ordem monacal, Teresa de Ávila. Ou foi Bernini que nos seduziu com o seu belo êxtase em mármore?

A vida exterior de S. João da Cruz foi um rodopio de actividade, entre o militantismo da sua reforma, a prisão e a fundação dos conventos. O poeta mostra-nas a outra face, contemplativa e mística que radica na liberdade da imaginação e da sensualidade transformada.

Nessa espessura, o Deus bíblico que 'sonda o coração e os rins', em vez de sondar, deixa-se ser 'sondado'.

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