terça-feira, 5 de abril de 2016

OS PRINCÍPIOS

(Alain Badiou)



"(...) a igualdade não é um objectivo nem um programa, é um princípio ou uma afirmação, não se trata de crer que os homens são iguais, ou tirar as consequências deste princípio."

(Conferência de Alain Badiou, na Argentina, 2/6/2004)

À  política  pertence,  por  exemplo,  uma 'política justa', à justiça, 'a transformação da situação subjectiva' pela consequência de duas afirmações: 'a afirmação da inseparabilidade do corpo e da ideia, e a consequência de princípios igualitários'.

"A justiça não é um programa a seguir no futuro, não é um estado de coisas, a justiça é uma transformação, digamos que é o presente colectivo de uma transformação subjectiva." (idem)

Da ideia de Badiou resulta que não pode haver justiça num país de escravos, como não pode haver entre as feras. Mas isso é ir um pouco longe de mais. Já foi reconhecido que, numa sociedade de ladrões, não deixa de existir uma espécie de justiça entre correlegionários - quem acreditaria num chefe que roubasse os seus homens?- e que isso seria um exemplo de homenagem do vício à virtude. Por outro lado, quem nos diz que certas situações 'exóticas' de desigualdade e de 'separação da ideia e do corpo' não passaram por algo de parecido com a 'transformação subjectiva' referida?

A sociedade da antiguidade clássica pôde conviver com a escravatura, talvez durante um milénio, sem que essa transformação subjectiva ocorresse de modo a permitir a unidade moral da Grécia e de Roma. Por outro lado, se houve uma declaração inaugural sobre o princípio da igualdade, ainda foi preciso imaginá-lo para além 'desta vida', com o triunfo do Cristianismo.

Parece, além disso, que no nosso 'presente colectivo', por força de uma subjectivação 'espontânea' ao nível do indivíduo, o princípio da igualdade não tem suficiente força declarativa, visto depender de outros princípios que, entretanto, entraram em crise.

Porque é tão natural que se comece por algum princípio de justiça, Badiou diz ainda: "o problema da justiça é o problema da sua perda,  não é o problema da sua vinda, há sempre a possibilidade de trazer algo de justo, e o  problema
mais difícil é o problema da sua perda, porque a justiça está sempre ameaçada."


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