domingo, 24 de abril de 2016

O DRAGÃO


(Michel Foucault)

"Crê-se facilmente que o homem se libertou de si próprio desde que descobriu que não se encontra, nem no centro da criação, nem no meio do espaço, nem talvez no cume ou no fim da vida. Mas se o homem já não está como soberano no mundo, se já não reina no centro do ser, as ciências humanas são intermediárias perigosas."
(Michel Foucault)

Mas poderímos alguma vez 'saltar sobre a própria sombra'?

Até à Crítica de Kant, pudemos confundir as coisas e iludir a questão. O que se tem feito depois é 'fazer metástases científicas' do local, em extrapolação aberta. Como é óbvio, isso não mudou a nossa 'soberania' em termos de funcionalidade. Apenas remetemos essa reivindicação insustentável para o 'Inconsciente'.

Ora, o anátema de Foucault dirigido às ciências humanas apenas pode ajudar a esta camuflagem. As ciências humanas não são credíveis. Seja. Resta-nos continuar a acreditar nelas sob outro nome e protegê-las através de um tabu.

Pôr em causa os fundamentos da ciência e agir consequentemente representaria uma terrível catástrofe. Graças ao velho instinto de sobrevivência, e como nos mitos antigos, colocámos um dragão à entrada e prosseguimos como se nada fosse.

A vida tem sempre razão, ainda que nos mate.

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