sexta-feira, 22 de abril de 2016

DE LÁ DO IMPÉRIO



"Dada a sua tarefa de evitarem os perigos, os políticos, em particular, podem facilmente sentir-se impelidos a proclamar que a observância dos padrões de segurança está assegurada mesmo quando tais garantias são impossíveis. Eles fazem-no, apesar disso, porque os custos políticos da omissão são muito mais altos do que os de uma reacção exagerada."
"World at risk" (Ulrich Beck)

Uma 'reacção exagerada' é a mais benévola definição da invasão do Iraque em busca de 'armas de destruição maciça'. Contudo, e sobretudo depois da implosão do país e da radicalização 'jihadista', poucos não teriam preferido uma 'omissão', até porque, antes como depois, é impossível controlar o acesso ao nuclear por parte dos radicais. O regime de 'franchising' do Daesh, como vimos nos recentes atentados na Europa, é muito menos previsível e controlável do que um Estado terrorista.

Se Bush foi vítima ou não de um 'complot', se lhe puseram 'olheiras', ou viu só o que queria ver, não é o que importa. O todo-poderoso Estado americano armou-se para a eventualidade de ser bombardeado com mísseis e foi atacado com aviões de passageiros, transformados em mísseis de grande alcance real e simbólico. Se o Estado justifica as suas colossais despesas militares com a defesa dos cidadãos, foi a primeira vez que tal esforço se revelou completamente em vão, mostrando a incapacidade do Estado para garantir a segurança dos cidadãos.

Mas se há povo, embora enganado,  que esteja cultural e subjectivamente 'preparado' para prescindir do Estado (daí a a feroz resistência ao desarmamento individual) é o norte-americano. E quando o poder estatal vem parar às mãos de ilustres energúmenos que prometem proteger 'the american people' e defender os seus interesses, numa situação de incerteza e de risco global, com paradas de efeitos incalculáveis, a prova está feita de que o indivíduo só pode contar com ele próprio.

Esse regresso ao 'espírito de fronteira' é o destino prometido aos europeus que se deixaram seduzir pela cultura americana e imitam a sua ideologia nos negócios e na política, e por isso sofrem as consequências das crises financeiras, sociais e de segurança com origem no coração do império.


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