domingo, 6 de setembro de 2015

O VALOR DA ARTE

 

"A estética da produção ostenta a experiência do artista genial, que 'cria' valores: do seu ponto de vista, as apreciações de valor são ditadas por um "olhar que põe valores." Se, no entanto, o pensamento já não puder movimentar-se no elemento da verdade e, de um modo geral, das exigências da validade, então contradição e crítica perdem o sentido. 'Contradizer', dizer não, já só contém o significado de 'querer ser diferente'."

(Jürgen Habermas)


Na pintura, por exemplo, já estamos nesse ponto. Se o espectador vir a diferença é tudo o que importa. O único valor que se impõe não é intrínseco à obra de arte, nem 'criado' por nenhum artista genial. É o que é ditado pela lei da oferta e da procura (sabemos que a arte é, cada vez mais, um 'valor-refúgio').

Não há razão nenhuma, como pintura, para consideramos o quadro 'Os Girassóis' de Van Gogh (um dos mais caros do mundo) mais valioso do que a pintura de um desconhecido que não consegue vender os seus quadros. O valor de mercado é exterior a qualquer apreciação desse género. Deveria ser possível, no entanto, que o valor mercantil aumentasse com um comentário especializado, ou com o reconhecimento de uma autoria, mas nada disso pode valorizar a obra em si mesma.

Ao pôr fora do nosso alcance qualquer critério 'objectivo' (por exemplo, a 'fidelidade' a uma percepção comum do objecto pintado - que a fotografia inviabilizou), realmente, a pintura tornou-se imune ao juízo negativo e a diferença passou a ser o único critério válido. Com isto, o tempo aparece como um 'criador' de valor. Quem não sentiu já, por exemplo, que um filme igual a tantos outros umas décadas atrás, ganhou, entretanto, uma espécie de valor, graças à sua diferença e à sua raridade?

À medida que a arte do passado se aproxima do estatuto de um 'vestígio' monumental, mais impossível se torna apreciarmos o seu valor íntrinseco.

 

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