quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A EXPOSIÇÃO DO MECANISMO

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"O povo não pode decidir até alguém decidir quem é o povo."

(Sir Ivor Jennings: "The Approach to SelfGovernment")

 

O povo já foi o todo e a parte, mas sempre se distinguiu das elites que geralmente decidem. O princípio platónico que quem sabe é que deve governar, como é o caso do piloto no mar, é inatacável se considerarmos a sociedade como algo de conhecido e controlável. Está longe de ser o caso. A sociedade, em primeiro lugar, não é um objecto de estudo, é o que o pode estudar. A pilotagem é uma arte de fazer caminho através das ondas e das tempestades. A comparação com o que se passa na política parece-nos hoje um sofisma. De facto, a arte política depende demasiado da sorte para invocar qualquer privilégio do conhecimento.

Um homem íntegro, para continuar íntegro, depende tanto da sorte como de si mesmo. O 'povo' diz: "a ocasião faz o ladrão". Mesmo assim, os torcionários não ganham sempre. Também eles dependem da boa ou má fortuna. Na verdade, continua a haver lugar para os deuses menores, para os heróis revolucionários e para os 'santos populares'.

Mas parece que, nas democracias, já resolvemos o problema de saber quem é o povo, de quem é a soberania. Já encontramos, na Constituição, as definições. E o povo constitucional dá-se a si mesmo o espectáculo da sua decisão.

Mas o mais importante dessa cerimónia é o consenso que gera. Escusado será dizer que qualquer exposição dos verdadeiros mecanismos do poder corrói aquele consenso.

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