quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

IMPUNIDADE

"Le retour à la raison" (Man Ray)

 

" (...) encontravam-se num estado de alucinaçāo sob o efeito da matemática - aquilo a que Dieudonné chamou 'a música da razão' e a que eu chamo a loucura de Locke."

Nassim Taleb ("O cisne negro")

 

Porque o racional não é o contrário do louco, é apenas o contrário do irracional. Taleb diz também: "Bem sei que o Nobel da economia não tem sido benéfico para a sociedade ou para o conhecimento (...)". Com efeito, a economia é um dos campos onde melhor se pode verificar essa distinção. Aquela "música" tem levado toda uma geração de 'sábios', desde os mais premiados até aos que só têm "dois dedos de testa", à falta de senso que hoje campeia.

A razão é sempre instrumental. Tem de estar ao serviço de algo superior a ela. Quando se disseca o cadáver teórico do social, é quando ela mostra o que vale. É como a medicina antiga (e ainda a moderna) a lidar com o corpo desligado do que o torna um corpo vivo (nas margens do 'establishment', fala-se agora em medicina holística).

Mas é interessante que, na maior parte dos casos, o 'irracional' não se aplique ao poder que tenta conservar-se e estender-se pelos meios mais lógicos (nem sempre é um caso de 'húbris').

A Alemanha, por exemplo, não deixa de 'ter razão', ao tirar todo o partido da crise económica, nem quando argumenta contra a ideia de qualquer responsabilidade sua na origem daquela. É o mais racional possível. E se a verdade pudesse ter uma nacionalidade (assim como a ideia de 'povo eleito'), os alemães estariam infalivelmente dentro da verdade.

E as outras nações europeias só tinham que erguer hossanas de louvor quando entrassem pelas goelas teutónicas. Porque os contribuintes europeus não salvaram os 'seus' bancos. Salvaram os bancos alemães, mais a justificação elegantemente matemática dos seus investimentos ruinosos. E quando os bancos não pagam pelo seu fracasso já estão acima das poucas regras 'civilizadas' do capitalismo.

 

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