sábado, 16 de fevereiro de 2013

AS RAÍZES NO LABORATÓRIO






"É verdade que a América se dá ao luxo de ser uma espécie de sociedade primitiva, de usufruir de uma inocência e de uma potência imoral. E nós podemos dar-nos ao luxo de usufruir da América do mesmo modo, de esquecer a relação de forças e de viver a riqueza como uma situação irreal."
Jean Baudrillard ("O paroxista indiferente")



Deveremos considerar a América uma sociedade primitiva?

Pela pujança dos seus deuses que nenhuma má-consciência perturba, pela exuberância gargantuesca da sua economia, por um imperialismo feliz e iluminado, na forma como se estende pelo planeta, através das armas, mas principalmente sem elas, cavalgando as ondas hertzianas e o espaço virtual das imagens e da Internet, como um Átila do soft?

Baudrillard compara essa cultura desenraizada, que já vive no hiper-real (para além do moderno), com uma Europa que com uma mão se agarra às suas raízes e aos seus pergaminhos e com a outra se prende ao vácuo (ou ao cabo transatlântico).

Tenho para mim que a ruptura com o passado só pode levar-nos ao irremediavelmente caduco. Mas o laboratório do outro lado pode explodir-nos na cara.

Estas considerações podem parecer ultrapassadas pelo chamado declínio americano e pela crise económica global que teve origem nos EUA. Mas devemos ter em atenção a dimensão artificial desta crise. Só a força se pode permitir perder tantas energias como as consumidas pela classe política americana.

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