quarta-feira, 16 de março de 2005

LES BIJOUX (BAUDELAIRE)

AS JÓIAS



A amada estava nua e, vendo o meu amor,
Tinha sobre ela só suas jóias sonoras,
De que o brilho lhe dava o ar triunfador
Que as escravas dos Mouros têm em certas horas.

Quando dançando lança o som vivo e trocista,
Esse mundo de pedra e metal que reluz
Em êxtase me enleva, e perco-me de vista
Nas coisas em que o som se junta com a luz.

Ela era então deitada e deixava-se amar,
E do alto do divã pacífica sorria
Ao meu amor profundo e doce como o mar,
Que como a uma falésia a ela subia.

Os olhos em mim fitos qual tigre domado,
De ar sonhador e vago ela ensaiava poses,
Candura e lubricidade de braço dado
Davam um novo encanto a tais metamorfoses.

E o braço, a sua perna, a coxa e a cintura,
Polidos como o óleo qual cisne que ondula,
Em meus olhos passavam, lúcida moldura;
E seu ventre e seus seios, cachos para a gula.

Avançavam mais meigos que os Anjos do mal,
A turvar o repouso em que era a minha alma,
E inquietá-la nessa rocha de cristal
Onde estava sentada solitária e calma.

Ver unidos em novo desenho assim cria
As ancas da Antíope e um busto de efebo,
De tal modo do corpo assomava a bacia.
Na tez morena e ruça, o 'rouge' era soberbo!

- E resignada a lâmpada a amortecer,
Como só a lareira o quarto iluminava,
Cada vez que um suspiro soltava ao arder,
A pele cor de âmbar de sangue inundava!

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