quarta-feira, 5 de agosto de 2015

MINOTAURO


http://img14.deviantart.net/a41a/i/2013/088/0/b/minotaur_by_priapos78-d5zqsgy.jpg


"É evidente, como Schlomo Pines mostrou com clareza, que para um grego o conceito de liberdade define um status e uma condição social e não, como para os modernos, algo que possa referir-se à experiência e à vontade de um sujeito."

(Giorgio Agamben, "La Potenza del Pensiero")

Assim posta a questão, claríssimamente, a liberdade, tal como a entendemos, é uma coisa moderna e não aparece na origem da nossa civilização. O paradoxo de uma sociedade de homens livres, cuja base económica é constituída por escravos, cessa de nos confundir e tal sociedade torna-se muito mais próxima de nós.

Algumas abstracções importantes interpuseram-se entre o escravo que, entretanto, mudou de nome e a quem foram atribuídos 'direitos' (que correspondem a outras tantas 'qualidades' funcionais no sistema de produção) e o antigo senhor que agora pode ser uma sociedade anónima ou um especulador bolsista. Tudo isto já foi dito pelo profeta de Tiers.

Não é por acaso que o Cristianismo é, por vezes, chamado de religião dos escravos. É com a lei moral judaico-cristã que a liberdade se torna uma experiência do sujeito que culmina no pensamento romântico do indivíduo 'cósmico'. No mundo da justiça religiosa, todos os homens são iguais, apesar do poder de cada um ser tão desigual como sempre foi, no terreno de César. Espártaco foi o proto-João Baptista malogrado por confundir o Céu e a Terra.

No nosso tempo, não existem, de facto, homens livres no sentido do grego antigo, só porque não chegam a constituir uma sociedade e nem sequer uma classe. O poder que possuem, quando não é capital acumulado ou golpe especulativo, é sobretudo funcional, o que os coloca do lado das forças naturais e mecânicas, do lado do Minotauro.

Que mais impressiona no exemplo da 'União Europeia'?: a falta de liberdade dos seus líderes. O discernimento se existe, não é o deles.

0 comentários: