quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A GRANDE NOITE



"Medito neste momento numa palavra de Augusto Comte, que diz que as mudanças possíveis são muito pequenas, mas que elas serão suficientes."
Alain

Parece que essa suposta lei já não tem validade, depois da revolução digital.

Compreende-se que as grandes transformações políticas que ocorrreram nos tempos modernos, desde a Revolução Francesa às revoluções do século XX, na Rússia e na China, foram mais reorganizações do que existia antes, confirmando os poderes emergentes e impondo uma solução a situações caóticas provocadas pela crise económica ou pela guerra, do que o estabelecimento de uma sociedade realmente nova e de acordo com os ideais proclamados. Afinal, a França revolucionária caiu nas mãos de um 'tirano esclarecido', Napoleão, antes de se entregar aos barões e burgueses enriquecidos da nova/velha ordem. E tanto russos como chineses retomaram os hábitos do despotismo, desta vez, mais do que 'esclarecido', 'científico'.

Comte concordaria que, apesar disso, no essencial, houve uma pequena mudança que não pode ser negada. E que até os massacres e a perda de vidas, em toda a parte, encontrarão justificação nessa diferença, aos olhos de muitos de nós.

Com o salto tecnológico, as mudanças na vida de cada um podem, em si, continuar a ser pequenas. Mas são mudanças sistemáticas que abrangem todos os sectores da sociedade e, sobretudo, acontecem a uma velocidade nunca observada em nenhuma revolução política. Daí que, em boa verdade, já não se pode dizer que sejam pequenas. A aceleração do seu desenvolvimento e disseminação desactualizaram todos modelos revolucionários conhecidos.

Tão depressa vamos nesta caótica exploração do conhecimento, que a palavra revolução agora só faz sentido se for um projecto 'conservador' no sentido de parar para pensar, o que é o paradoxo dos paradoxos para os que acreditam na 'Grande Noite' da Revolução.

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