terça-feira, 4 de agosto de 2015

DISTOPIA



"Um dos jogos de DVD 'Gothic' começa com a sabedoria: 'Cada Evento é precedido pela Profecia. Mas sem o Herói, não há Evento.' Qualquer pessoa pode facilmente traduzir esta obscura sabedoria em termos marxistas: 'Os contornos gerais de cada acontecimento revolucionário pode ser previsto por teóricos sociais; contudo, este acontecimento só pode ter efectivamente lugar se houver um sujeito revolucionário".

(Slavoj Zizek)

Por outras palavras, não é a ocasião que faz o herói. A situação pode estar 'madura', profetizada e teoricamente 'certificada, mas nada acontece. O 'sujeito revolucionário' escapa a todos os GPS, é imprevisível e elusivo como Proteus que não se sabe nunca como se nos apresentará.

Mas o mais desconcertante é que isso não invalida a profecia nem a representação do evento. Lembremo-nos como o "fim dos tempos' e o 'julgamento final' foi indefinidamente adiado na história do Cristianismo. A certo ponto, a 'espera' do acontecimento dispensa a contagem do tempo e transita para o simbólico.

A Profecia e o Evento tornam-se independentes do curso do mundo. E o Herói, o seu aparecimento e a sua missão, podem cumprir-se no eterno adiamento. De certo modo, a Profecia cumpriu-se, o Herói chegou e o Evento já teve lugar, pois que a nossa vida se transformou graças a essa lenda. Por que é que um não-Evento que mudou sentimentos e maneiras de pensar não há-de ser 'real'?

Os que insistem no sentido literal só podem testemunhar o fracasso dos ideais. O pior dos mundos é a utopia 'realizada'.



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