terça-feira, 16 de junho de 2015

O SILENO

Sileno

 

"Não procures verdade no que sabes."

(Sophia)

Misterioso aviso este. Devo então procurar a verdade no que não sei? Precisamente. Quando julgo tê-la encontrado e a pus na sua gaiola, já a perdi. O 'nada sei' não era uma astúcia do célebre filósofo aparentado ao Sileno para fazer falar os outros e vê-los enredados nos seus próprios jogos de linguagem.

Claro que quando alguém diz de um 'convencido' que não é 'dono da verdade', não diz o mesmo que acima. Só contesta um monopólio, não que a verdade possa estar numa gaiola científica, por exemplo.

Mas o que seria um mundo em que se tivessem perdido as convicções, por mais ilusórias que pudessem ser? Esse mundo ficaria, provavelmente, entregue aos programas, que não têm de ter fé neles próprios. Quanto aos programadores, nem teriam de ser humanos. Bastava-lhes responder a um só problema: como tornar o mundo, presente e futuro, um mundo 'sustentável', segundo um modelo matemático (mais confiável, embora, do que os modelos dos economistas).

Podemos conceber que tudo isso não fosse mais do que a 'administração' de homens e coisas, e que a verdade irrepetível de que fala o poeta pertencesse ao mundo religioso, ao transcendente?

 

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