domingo, 6 de abril de 2014

PARÁBOLA DOS CEGOS

Edward Gibbon (1737/1794)

"Mas no estado imperfeito da sociedade presente, o luxo, embora possa provir do vício ou da loucura, é aparentemente o único meio capaz de corrigir a desigual partilha dos bens. O diligente obreiro e o habilidoso artista, que não obtiveram qualquer quinhão na divisão da terra, recebem um imposto voluntário por parte dos donos da gleba;"

"(...) As províncias depressa teriam ficado esgotadas da sua riqueza, caso as manufacturas e o comércio do luxo não devolvessem gradualmente aos laboriosos súbditos as quantias que lhes eram arrancadas pelas armas e a autoridade de Roma."
"Declínio e Queda do Império Romano" (Edward Gibbon)

Gibbon, que conheceu Voltaire e foi amigo dos Enciclopedistas, publicou o "Declínio" uns anos anos da Revolução Francesa.

Mas aquelas palavras sobre o papel virtuoso do luxo na economia do império romano, cuja acção civilizadora enaltece, dimanam de princípios muito diferentes que os revolucionários não podiam deixar de considerar conservadores e ultrapassados.

Gibbon limita-se a "interpretar" as causas e os efeitos, como se a acção do homem não pudesse mudar, conscientemente, o curso da história. Neste caso, tratava-se de, sob o magistério da Razão, prescindir do papel anómalo do vício, qualquer que fosse a virtude do seu produto.

Hoje, muitos chamariam de abstracta a essa Razão e teriam todos os motivos para duvidar da consciência dos timoneiros que dela se reivindicam.
"Qui veut faire l'ange... fait la bête."

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