quarta-feira, 16 de abril de 2014

APÁTRIDA

"A tecnologia universal moderna constitui intrinsecamente uma ameaça para as reivindicações de singularidade de qualquer sociedade."

"On China" (Henry Kissinger)

 

'Refractário à mudança', era uma expressão que se empregava muitas vezes quando começou a ser moda em Portugal 'reestruturar' as empresas e a aparecer com organigramas uns atrás dos outros, para designar os que não se adaptavam ao mundo dos computadores. O tempo encarregou-se de resolver esse problema, e hoje quase ninguém espera senão mudança. Passamos, numa geração, a um nomadismo geral, com tendas e acampamentos onde menos se esperava e pessoas condenadas ao provisório em segundo grau (a nossa própria existência é o primeiro grau).

Ora, o factor que melhor explica esta aceleração do tempo e a nossa consequente perda de estabilidade, talvez seja, de facto, a 'tecnologia universal moderna' de que fala o antigo secretário de estado de Richard Nixon, num livro dedicado ao país que foi, durante alguns milénios, o símbolo da imobilidade. Embora, no caso da China, se possa dizer, com mais propriedade, que o que a tornou um país em vias de perder a sua 'singularidade' e de, nessa medida, se tornar mais vulnerável à 'revolução tecnológica', tenha sido a ideologia anti-confucionista. Como reconhece Kissinger, desse confronto ideológico, não foi, porém, Marx o vencedor. Confúncio é que se adaptou aos tempos de hoje.

A tecnologia universal parece, de facto, imparável e atravessa mesmo as barreiras religiosas, como se vê nos países muçulmanos. O que a inteligência e a tolerância não conseguiram, um objecto 'mágico' e, talvez, erradamente 'neutro', como o telemóvel dir-se-ia penetrar no mundo mais fechado e criar mentalidades 'desprevenidas' para os vírus do desconhecido.

Como um Cavalo de Tróia sem emissário.

 


 

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