quinta-feira, 6 de março de 2014

A RAZÃO COMUNICACIONAL

Jürgen Habermas

"'Sugeri' nestas passagens que o paradigma do conhecimento de objectos tem de ser substituído pelo paradigma da compreensão mútua entre sujeitos capazes de falar e agir."

Jürgen Habermas ("O Discurso Filosófico da Modernidade")

 

"Sejamos razoáveis: temos de pedir o impossível!", "é proibido proibir" e outras proclamações do género ficaram para sempre associadas à revolução 'ectópica' de Maio de 68.

Mas não foi realmente um aborto, foi uma mudança de horizontes que em si anunciava o colapso do racionalismo moderno que teve a sua alvorada com filósofos como Descartes e Emmanuel Kant. Percebeu-se que essa Razão estava estruturada sobre a consciência subjectiva (e existe outra?), como o célebre 'cogito' cartesiano.

Não faltam fortes argumentos ao cartesianismo. Simone Weil perguntava: é um colectivo capaz de fazer uma simples soma aritmética? Não pode. É no indivíduo, na sua auto-reflexão, que uma tal operação encontra as condições necessárias.

Mas as máquinas inteligentes vieram mostrar que não temos o exclusivo. A maior parte de nós utiliza os automatismos do nosso corpo (não sabemos se é o cérebro que detém o monopólio do pensar) para executar operações como essa. Mas é claro que com a álgebra, mesmo os mais 'compreensivos' e os mais atentos 'perderam o fio à meada'. Empregar uma fórmula de cujo produto só conhecemos o resultado aproxima-nos terrivelmente do 'maquinal'.

O problema é que a razão instrumental funciona, mas não sabe dar conta de si. Kant deu o maior golpe à sua pretensa autonomia, mas manteve-a enraizada na subjectividade. Essa 'limitação' tornou a razão mais instrumental ainda e com menos má-consciência.

A crise da ciência de que hoje se começa a falar nos 'media' vem daí.

Habermas responde à situação com uma 'mudança de paradigma'. A razão comunicacional teria como fim último a compreensão inter-subjectiva. Seria, evidentemente, pôr um termo às pretensões infundadas da ciência. Nem o 'privilégio' das ciências da Natureza ficaria de pé.

O 'objectivo' da compreensão mútua só será alcançado à custa da política que, valha a verdade, nos tempos que correm, já está, graças à falácia da pseudo ciência económica, mais do lado do não-político, do jogo da sorte e dos mecanismos da força, do que do mundo dos cidadãos.

 

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