terça-feira, 28 de março de 2017

A ARA DA VONTADE




"O quarto dragão, uma besta um tanto misteriosa, é o do exemplo e da natureza dos actos de oração de Weil. Ficamos desapontados, diz Finch, com as suas súplicas de extinção, de "paralisia" perante Deus. Imputamos motivos psicologicamente suspeitos à sua tentativa de alcançar a obediência universal representada pela "matéria muda e inanimada"".
"Paixão intacta" (George Steiner)

No romance de Irvin Yalom "Quando Nietzsche chorou", a tentação do suicídio e as dores de cabeça levam o filósofo a consultar Joseph Breuer, o mentor de Freud. Mas é Breuer que sai transformado desse encontro, em que foi "psicanalisado" por Nietzsche, enquanto este, recuperado o equilíbrio, está pronto para escrever o "Zaratustra", antes de definitivamente perder a razão.

Parece que Simone, para quem as ideias de Nietzsche eram objecto de repugnância, conservou a posse das suas faculdades até ao fim do seu trilho de montanha. Mas, precisamente com este "quarto dragão" (H.L.Finch), dir-se-ia que estamos já em pleno abandono da razão. Por isso, o paralelo com o autor de "Assim falou Zaratustra" não se pode dizer que seja arbitrário. E tal como não podemos ler a obra de Nietzsche como uma antecipação da loucura, como se a contivesse já em si, nas suas palavras e o seu estilo apostrófico, temos, como diz Steiner, de distinguir "entre a singularidade da pessoa, com todos os seus marcadores patológicos, e o peso autónomo da obra."

Contudo, a patologia é por definição sofrida. E será que não podemos conceber a mística weiliana como acção, acção com que se termina a vida separada?

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