segunda-feira, 17 de abril de 2017

LIÇÕES E PRECONCEITOS

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"É pelo menos possível construir uma argumentação racional a favor da nacionalização de todo o capital industrial (se bem que eu creia que pode ser demonstrado - e a experiência confirma-o - que as consequências duma tal política seriam desastrosas). Mas nem sequer é possível construir uma argumentação racional para sustentar que os operários empregados num momento dado numa empresa ou numa indústria deveriam deter colectivamente os equipamentos desta indústria. Toda a tentativa para imaginar as consequências duma tal medida mostra rapidamente que ela é absolutamente incompatível com um qualquer uso racional dos recursos da sociedade, e que conduziria a uma completa desorganização do sistema económico."

"Essais" (Friedrich Hayek)

Quem conheceu a voga que no nosso país tiveram ideias como a da autogestão e a do controle operário sabe que são ideias não só plausíveis, mas que facilmente ganham os espíritos, se o contexto político for favorável, como era o caso nos anos setenta.

A experiência demonstrou, porém, que essa facilidade e esse aparente bom-senso escondiam problemas de organização e de viabilidade económica insuspeitados, pelo menos para os mais ingénuos.

O resultado é que em nenhum lado vingaram essas ideias. E aqueles que gostariam de responder com o argumento de que seria preciso mudar todo o sistema para essas experiências terem sucesso, têm na ex-URSS a prova de que nem aí elas eram economicamente racionais.

Esse passivo histórico, contudo, não bastou para acabar com ilusões como essas, e a prática dos sindicatos reflecte isso mesmo, ainda hoje.

Continua-se a pensar que a sinceridade, a honestidade, a boa-vontade e, sendo a nossa cultura o que é, o mais apreciado ainda "espírito de pobreza", designam, naturalmente, alguns para certas posições, donde se espera que ajam segundo a justiça e aquelas boas disposições.

Esquece-se, uma e outra vez, que a organização e a função modificam as pessoas e que um operário à frente duma administração já não é um operário, nem pensa como tal, mas pensa como um gestor ou um burocrata. Por esse motivo aquela espécie de moralismo automático, em função duma categoria social, só nos pode extraviar.

Apetecia dizer que quando os sindicatos, em vez dessa moral fácil, tiverem em conta e souberem explicar as consequências das suas propostas, algo de novo se veria. O problema é que a organização sindical não está em posição de ver tão longe, em primeiro lugar, porque não lhe cabe gerir.
Ora, parece que essa demonstração seria imprescindível numa verdadeira negociação.

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