(Man Ray)
"Podemos descrever sumariamente do seguinte modo a percepção do corpo de outrem:
a) nunca é objectiva. Não há percepção "tal qual" do corpo de outrem. A menor vibração do afecto faz variar os elementos objectivos do corpo percebido (estatura, forma, cor, etc.). Ora, como a percepção do corpo implica sempre uma relação afectiva, estas variações nunca se detêm. (...) Não há um sujeito aqui que perceba ali um corpo, mas um laço vivo de forças constituindo o solo sobre o qual se ergue a percepção das formas;
(...)
b) não é subjectiva. Porque este "objecto" percebido é sempre outro porque inapreensível do interior; o exterior resiste, é ele que esquematiza o meu/seu interior, é ele que impõe uma forma e uma materialidade à percepção."
"A Imagem-Nua e as Pequenas Percepções" (José Gil)
Está aqui delineada uma teoria da física paradoxal do corpo a corpo (Gil chama-lhe metafenomenologia). Que explica as perturbações da linguagem no campo da nudez, o terror que pode provocar o corpo que passa a ser a órbita do rosto e não o seu "suporte" e, evidentemente, o desejo, como rapto da afectividade, sem distância para as palavras.
No corpo, tudo é expressivo (Cunningham, citado por José Gil). Ao contrário da "boutade" de que tudo é político, não nos custa nada admitir que a presença do outro faça todo o nosso corpo responder com a imagem induzida pela imagem que o outro projecta, mas que é, ao mesmo tempo, máscara e recusa de identificação. Logo, aqui tudo é expressão, conforme e contra a imagem.
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