(Um retrato do Fayoum)
"Assim, se o vanguardista do princípio do século não foi aceite pelo grande público, foi em primeiro lugar porque ele elevava ao nível dos valores culturais os elementos do meio ambiente quotidiano que este público, que o manipulava todos os dias, considerava como "não culturais", e aos quais por isso procurava ultrapassar."
Esse artista priva, deste modo, o público da "ilusão que se lhe tinha tornado mais cara, aquela que lhe fazia crer que se podia aproximar da cultura valorizada, tal como ela é procurada, e nesta via põe claramente em evidência o seu fracasso."
"Du Nouveau" (Boris Groys)
Este processo deve ter-se verificado em todos os passos dados pela arte fora do sagrado. Do hieratismo das figuras egípcias aos retratos do Fayoum, ou do esquematismo dos primitivos italianos aos padrões clássicos do Renascimento e destes ao realismo trágico de um Caravaggio.
Emprestar as feições dos contemporâneos à representação de uma passagem bíblica ou fazer figurar um animal doméstico junto à perna duma mesa, na "Última Ceia", não era já abrir o caminho à tematização do quotidiano e a essa essência do profano que é a "natureza morta"?
O que é novo, mais do que a perda da aura de que fala Benjamim, talvez seja o desaparecimento do artista criador e a sua metamorfose num agente de contrastaria, especialista na demarcação do que deve e do que não deve ser valorizado.
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