sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ARTE IMATERIAL

 




"Sabe-se que no fim do segundo andamento da Sinfonia pastoral, a orquestra faz ouvir o canto do rouxinol, do cuco e da codorniz; e pode-se dizer que a Sinfonia quase inteira está entretecida de cantos e murmúrios da Natureza. Os estetas têm dissertado muito sobre a questão de saber se se devia ou não aprovar estas tentativas de música imitativa. Nenhum deles reparou que Beethoven não imitava nada, uma vez que ele não ouvia nada. Recriava no seu espírito um mundo que estava morto para ele. É o que torna tão pungente esta evocação dos pássaros. O único meio que lhe restava para ouvi-los era fazê-los cantar em si."

"Beethoven" (Romain Rolland)


Mais uma vez se parece desmentir, na arte, a necessidade de corporização da ideia, como se fosse possível recriar os sons do mundo e o canto dos pássaros sem nunca os ter ouvido.

Com Beethoven, não foi de qualquer modo o caso. A Natureza da "Pastoral" vivia na memória do compositor que, entretanto, tinha perdido o sentido mais importante para a música.

Mas fica em aberto a possibilidade de converter os outros sentidos à música. Se se consegue "visualizar" pelo tacto, por que não "ouvir"?

Uma arte apenas pensada, cuja forma acabada já existisse antes da materialização, não seria arte, mas pensamento.

 

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