terça-feira, 5 de abril de 2005

EUROMILHÕES




Oiço dizer à empregada do café da praia que se lhe saísse o euromilhões mandava o pessoal todo passear.

Ou seja, o dinheiro nestes casos é um dissolvente poderoso, rompendo os efeitos socializantes da família, do trabalho, etc. 

Por que terá de ser assim?

O dinheiro é um 'ersatz' da liberdade. Tudo aquilo que se fez até sermos contemplados pela sorte foi efeito da necessidade. Tudo quanto aprendemos foi um corpo a corpo com a vida, espiando de perto todas as saídas nas situações difíceis. Acabamos, pois, por ser o resultado dessa interacção constante com o mundo que nos não permite muitas fantasias. Ora, as relações sociais constroem-se assim, sem que a vontade livre tenha nisso um papel relevante.

O dinheiro é o reverso aparente de todas essas coacções, fazendo-nos crer que podemos, com ele, criar as relações e viver uma vida de homem.
Essa ilusão é natural, e nunca se viu um milionário de nascimento que não tenha aderido a um mundo de necessidades artificiais (as visitas sociais, as obras de caridade, a política, etc) , nem um milionário da sorte que tenha feito o “que sempre sonhou fazer” sem se tornar num infeliz abandonado por todos.

É por isso que o euromilhões só serve aos que não têm sonhos.

0 comentários: