"O assassínio de Jesse James pelo cobarde Robert Ford" (2007-Andrew Dominik) marca uma época na história do western.
A complexidade da relação entre o fora-da-lei e o seu "executor", mais do que psicológica, entra no domínio do simbólico, evocando a mais arcaica e ambígua das traições: a de Judas Iscariote.
Tão explicitamente quanto Jesus, James serve-se do seu discípulo para dar um fecho à sua lenda. E é na agonia de ter sido escolhido para essa missão que Robert Ford cumpre o que se espera dele.
E todo o resto do filme, que narra a celebração no teatro, centenas de vezes, da traição e da morte e, por fim, o assassinato do próprio Bob às mãos dum "procurador" anónimo da justiça dos heróis, acima do bem e do mal, é como um comentário ao enforcamento de Judas na figueira, incapaz de escapar à sua maldição.
O contraponto das duas personagens é servido por duas interpretações extraordinárias. Pitt (Jesse James), a certa altura cai num tique já visto (a facécia com o chapéu), mas a inteligência do olhar, fundamental para a consciência da personagem sobre o seu próprio destino, é-nos dada com força e verdade. Quanto a Casey Affleck (Bob Ford), é genial na sua abjecção, no olhar velado e nas quebras de voz, como que se apagando diante do ídolo e oferecendo-se-lhe como o perfeito instrumento.
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