terça-feira, 22 de janeiro de 2008

ARBITRÁRIOS PRINCÍPIOS


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"Ela vivia também dessas emoções, desses princípios arbitrários que enchem a sensibilidade e o cérebro dos políticos, das assembleias parlamentares. Se na Câmara um ministro interpelado explica a sua conduta dizendo que acredita fazer bem em, etc., que pensou que seria mais simples de... coisas que para uma pessoa de bom senso, ao ouvi-las, pareceriam muito razoáveis, são acolhidas por uma longa agitação: "É muito grave, é muito inquietante." e se o orador que replica começa, pontuando as palavras: "O espanto, e é dizer pouco, que me causaram as palavras do Sr. Ministro", é acolhido por uma tripla salva de palmas, movimentos vários que revelam no espírito dos parlamentares reunidos uma ideia do dever absolutamente fictícia que as explicações do ministro exasperaram, enquanto teriam convencido uma consciência simplesmente humana, e uma necessidade de emoção teatral que se desencadeia fora de todo o motivo de emoção humana."

"Esquisse du Côté de Guermantes" (Marcel Proust)


Podia-se dizer melhor do que com estes "princípios arbitrários"?

Sintomaticamente, são os que mais se contradizem que, a torto e a direito, mais invocam os princípios.

Do seu quarto forrado a cortiça da rua Hamelin por causa do ruído e no meio das fumigações contra a asma, Proust encontra o tom zurzente do nosso Eça para descrever uma certa política. Parece-nos, com aquele "É muito grave", estar a ouvir o Conde de Abranhos.

E se a "emoção teatral" fazia já os oradores da Câmara comportarem-se como actores, esquecidos do seu papel na vida real, o que dizer da emoção induzida pela televisão?

O sistema dos partidos, aliado à sua monitorização televisiva, leva ao acme a ideia do "principio arbitrário".

Ninguém, ali, é livre para ser razoável, mas todos têm de aprender a lei da demarcação. Ser diferente a todo o custo, mesmo se isso custar um infinito ridículo.

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