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"Ela vivia também dessas emoções, desses princípios arbitrários que enchem a sensibilidade e o cérebro dos políticos, das assembleias parlamentares. Se na Câmara um ministro interpelado explica a sua conduta dizendo que acredita fazer bem em, etc., que pensou que seria mais simples de... coisas que para uma pessoa de bom senso, ao ouvi-las, pareceriam muito razoáveis,
"Esquisse du Côté de Guermantes" (Marcel Proust)
Podia-se dizer melhor do que com estes "princípios arbitrários"?
Sintomaticamente, são os que mais se contradizem que, a torto e a direito, mais invocam os princípios.
Do seu quarto forrado a cortiça da rua Hamelin por causa do ruído e no meio das fumigações contra a asma, Proust encontra o tom zurzente do nosso Eça para descrever uma certa política. Parece-nos, com aquele "É muito grave", estar a ouvir o Conde de Abranhos.
E se a "emoção teatral" fazia já os oradores da Câmara comportarem-se como actores, esquecidos do seu papel na vida real, o que dizer da emoção induzida pela televisão?
O sistema dos partidos, aliado à sua monitorização televisiva, leva ao acme a ideia do "principio arbitrário".
Ninguém, ali, é livre para ser razoável, mas todos têm de aprender a lei da demarcação. Ser diferente a todo o custo, mesmo se isso custar um infinito ridículo.
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