"Europa" (1991-Lars Von Trier)
A hipnose talvez seja o único portal de acesso ao tempo estranho e incompreensível como aquele que nos retrata "Europa" de Lars Von Trier.
O comboio como metáfora dum país a rodar vertiginosamente para o seu destino, sabotado pela culpa mais inexpiável que pode haver.
O revisor, na sua cómica passividade, é parente da personagem de "O Processo", e as formalidades do exame a que o submetem os inspectores no caos da própria carruagem evoca o pesadelo burocrático.
A sintaxe do sonho, poética até à distorção, dá ao filme uma extraordinária eficácia.
A mole humana que cerca o comboio e sufoca nos seus corredores, transportando consigo a maldição dos campos, lembra-nos constantemente que aqueles tempos depois do fim da guerra não são de reconstrução, mas de desespero e de ajuste de contas.
O revisor faz explodir o comboio, manobrado pelos "lobisomens" que durante o dia são possivelmente kantianos e de noite põem a Alemanha a ferro e fogo.
E morre afogado, sem se poder livrar desse sonho mau.
Como americano, e homem de boa vontade, não está ao seu alcance a técnica dos lobisomens.
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