quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O GRANDE PLANO


David Wark Griffith (1875/1948)

"A lenda pretende que Griffith ficou tão impressionado com a beleza duma actriz quando rodava um dos seus filmes, que fez de novo filmar, de muito próximo, o instante que acabava de o deslumbrar, e que, ao tentar intercalá-lo no seu lugar, e conseguindo-o, inventou o grande plano. A anedota mostra bem em que sentido se exercia o talento dum dos grandes realizadores do cinema primitivo, como procurava menos agir sobre o actor (modificando a sua interpretação, por exemplo) do que modificar a relação deste com o espectador (aumentando a dimensão da sua face)."

"Esquisse d'une Psychologie du Cinéma" (André Malraux)

Era, evidentemente, difícil não "descobrir" o grande plano, logo que se começasse a abandonar a ideia do teatro filmado e da fixidez do ponto de vista do espectador.

O novo meio permitia uma grande liberdade com o tempo (a montagem paralela em "Intolerância", por exemplo) e com o espaço, como era o caso do plano.

Nenhuma arte é realista ao ponto de negar a sua forma. Assim, o grande plano tem pouco a ver com a nossa experiência quando nos aproximamos do rosto de alguém e tem tudo a ver com a capacidade da câmara de seccionar a aparência e permitir a articulação das imagens.

Um rosto iluminado ocupando a tela inteira, numa sala escura, só se torna humano depois de termos sido educados pelo cinema.

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