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"Lenz sabia que, se juntamente com os outros elementos do Partido, decidissem cortar a energia eléctrica, garantindo porém a segurança de cada indivíduo de maneira plena e contínua e não intercalada como agora, em pouco tempo os teríamos de novo - à populaça, dizia Lenz - a segurar em velas, orgulhosos por estas lhes permitirem assistir às paradas militares nocturnas, onde os homens que protegem os seus bens e os seus filhos desfilam.
Todos queriam segurança, mas ainda faltava sentirem-se mais ameaçados."
"Aprender a rezar na Era da Técnica" (Gonçalo Tavares)
Gonçalo Tavares, um dos autores mais originais dos novos tempos, parece longe do nosso quotidiano neste romance "germânico".
Haverá à nossa volta criaturas nietzscheanas como o seu Lenz Buchmann?
Não há, como não havia outro Julien Sorel, apesar do romance de Sthendal se inspirar num "fait divers".
Mas a lógica da personagem, desenvolvida ao longo de páginas que fervilham de ideias, não nos deixa dúvidas sobre o facto dessa maneira de pensar ter tudo a ver com cada um de nós.
A psicologia suspensa, é claro, para podermos ver a maldade, talvez, em nós. Virtual, num estado de indefinição como o gato de Schrödinger, mas real, "impossivelmente real". À espera do acontecimento.
Então os Lenz não terão de negociar o seu direito a encarnarem a natureza, violenta e, afinal, indómita, contra todas as ilusões da Técnica.
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